Dizer adeus às pessoas e fechar ciclos nunca foram meus melhores momentos, realmente eu gosto de mudanças e me adapto facilmente às novas situações mas o tema mudança leva consigo um anexo: a despedida daquilo que fica.
Aquilo que fica engloba muito mistério, tal como a vida é; lê-se um pós plantão assistindo seriado com as amigas na sala da sua casa, o cinema inesperado, o álcool compartido no mesmo copo, o sorriso de bom dia e o desejo de uma boa noite de sono. Por definição, despedir é afastar-se, mandar embora com brandura ou não; uma definição pouco sensível para um momento tão rude da vida.
Compreendo que nem tudo é lágrima e que a possibilidade de um futuro melhor a cada começo é encantadora mas então porque é tão difícil nos despedir? Para mim, despedir-se é difícil pela quebra de rotina, pelos novos hábitos que terei dentro do mesmo entorno, é o medo de todo progresso se esvair entre as mãos no mesmo minuto em que você pensa estar no topo.
Dizer adeus a Asunción está sendo difícil, tive boas companhias, fui bem recebida, me comportei como eu mesma e mesmo assim tive o meu lugar preservado. Aprendi fora e dentro dos hospitais, entendi que não tenho habilidade com outro idioma e que terei de buscar uma fonoaudióloga o mais rápido possível, aprendi que um grupo de 6 amigos conseguem compartilhar o mesmo copo de cerveja e que, por mais estranho que pareça, acredito que vou sentir falta disso no Br. Sentirei falta das pessoas que me cercam, do jeito amável com que os copos e pratos são compartidos entre amigos, do transito interminável e caótico que me fez voltar a ouvir musica em idiomas desconhecidos, de andar mais rápido mas mesmo assim cuidar com a pessoa que vai se maquiando ao seu lado, falta de ter uma casa pra chamar de minha, das comidas feitas pela Luana, dos momentos megalomaniacos da Letícia dizendo que sentimos falta dela mesmo fazendo 2h que ela foi para o trabalho, enfim, falta de ter irmãs em casa, de me irritar, de chorar escondida porque fui rude mas ainda não estar preparada para pedir desculpar e, principalmente, de dar longas gargalhadas por alguma idiotice feita por elas.
Tenho muito a agradecer, aos mbeju rellenos, aos risottos, as cervejas Ñande, aos ensinamentos de como ser uma pessoa melhor, de cuidar mais da minha vida, de entender que os outros são os outros, de ter sempre um uniforme limpo, de que quando entrar em cirurgia sempre beber água e comer antes, de que o que eu penso pode ofender e por isso devo me calar, de agradecer mais tudo o que Deus tem me ofertado e de aproveitar uma boa noite de sono.
Ainda não sei bem elaborar minhas despedidas, o que sei é sentirei saudades imensas e que voltarei uma Cessel diferente da que veio, e com certeza com muito mais orgulho de ser Paraguay!